A Fotografia de Arquitetura
Uma das fotografias que mais gosto de praticar, e também das que mais sou chamado profissionalmente para executar, é a fotografia de arquitetura.
Este tipo de fotografia envolve diversos aspectos pois a imagem pode servir a dezenas de objetivos distintos, por isso é necessário desde o conhecimento de lentes diversas para obter enquadramentos adequados até o domínio completo da luz em suas mais diversas possibilidades, como luz natural, artificial, flash, e mesmo a mescla de todas estas fontes de luz para se obter um registro adequado da arquitetura, seja ela a fachada de um imponente edifício até uma pequena sala e sua decoração.
Este tipo de fotografia envolve também o conhecimento da área em si, dos estilos de arquitetura, da história e do trabalho de arquitetos, da importância social da arquitetura e de como as obras se inserem em períodos e sociedades, pois é este conhecimento que irá orientar o fotógrafo no que é importante ressaltar em cada obra.
Citei que esse trabalho pode servir a dezenas de propósitos, podemos imaginar desde o fotógrafo autoral, que inspirando-se na realização arquitetônica criará sua própria arte, passando pelo fotógrafo que atende a um arquiteto para registrar as obras que irão ser apresentadas no portfolio do cliente, chegando por exemplo ao registro de uma residência que será colocada à venda, entre outros.
Cada um dos objetivos citados determina a tomada de um grupo diferente de decisões técnicas e estéticas pelo profissional, pois se o fotógrafo autoral tem toda a liberdade para criar sua própria arte, o que atende ao escritório de arquitetura terá de entender os objetivos de comunicação do cliente e atuar dentro desses limites e por fim o que irá registrar a casa à venda fará as fotos pensando nos compradores, em como eles irão ver a residência através das fotos. Muda o público da imagem, o conceito, a técnica, os objetivos, tudo.
Por esses motivos a fotografia de arquitetura é uma área ampla que exige um grupo de conhecimentos igualmente vasto tanto em fotografia mas também em cultura geral e história da arte.
Seja qual for o objetivo, a fotografia de arquitetura é sempre um trabalho de releitura, no qual o fotógrafo, com seus conhecimentos, cultura, técnica e habilidades, irá interpretar, ressaltar e apresentar o trabalho arquitetônico através de fotografias.
Diferentemente de uma fotografia realizada em estúdio, na qual o fotógrafo é como um pintor que parte de uma tela em branco e adiciona elementos até complementar sua composição, aqui o fotógrafo lida com o que existe, que é sólido e palpável, e que é obra de outra pessoa, daí o sentido de releitura que mencionei.
Ilustro este artigo com panorâmicas que produzi no Memorial da América Latina, em São Paulo, obra do genial mestre Oscar Niemeyer. Estas fotos seguiram um objetivo autoral, mas ao mesmo tempo de homenagem, pois admiro e sou influenciado em minha fotografia pela arquitetura moderna e minimalista de Niemeyer.
Por ser um trabalho autoral, poderia fazer o que quisesse, até um completo abstrato se fosse essa a intenção, mas por outro lado eu queria prestar homenagem, e isso fez com que eu buscasse elementos comuns entre a arquitetura dele e a minha fotografia.
Pode parecer estranho, mas de fato sou um fotógrafo influenciado por um arquiteto (e também por cineastas, pintores, mas isso não vem ao caso agora), o fato é que uma das características de Niemeyer são os grandes espaços sem nenhuma obstrução, e em minha fotografia sempre busquei o uso de objetivas grande angulares para ampliar a sensação de espaço e distâncias, assim sendo para casar a obra do arquiteto com meus ideais fotográficos eu deveria fazer uso de grande angular. Vejam como a interpretação dos estilos do arquiteto e de minha fotografia decidiram a escolha de uma lente, é o que costumo dizer sobre o equipamento servir às idéias, que deve ser o objetivo de todo fotógrafo e nunca o contrário.
Outra característica que partilho com a arquitetura de Niemeyer é a simplicidade, ele nunca coloca formas demais ou elementos em demasia na fachada de um edifício, e eu também aprecio fotos simples, com poucos elementos que permitam concentrar a atenção do observador em poucas coisas de cada vez, e aí vem uma decisão sobre a estética das fotos que fiz no memorial, elas deveriam ser simples, com a menor quantidade de informação possível e uma palheta de cores restrita aos brancos e cinzas dos prédios somados ao azul do céu e só, sem pessoas nem movimento.
Com essas idéias em mente produzi as panorâmicas apresentadas aqui neste artigo e fiquei satisfeito de ter dentro do meu estilo, homenageado um grande mestre das artes.
Caso vocês que seguem meus artigos gostem deste tema, poderei pensar em uma série sobre o mesmo e gerar um novo eBook, assim como foi com o de Fotometria + Flash, desta vez sobre fotografia de arquitetura, que acham? Postem comentários sobre o que vocês gostariam e se houver interesse geral irei produzir a série e um novo eBook.
Ainda sobre este tema, darei um curso de fotografia de arquitetura no IIF, em São Paulo, os detalhes podem ser vistos neste link: www.iif.com.br/site/cursos/interiores-e-design
Nos vemos em breve, siga-me no Twitter @VernagliaJr